segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A Língua Francesa

Bom, to terminando esse texto que eu comecei a escrever em Vichy e esperei a hora certa pra poder finalizar e enviar. A ideia é também soltar alguns textos sobre as impressões iniciais daqui e depois, no final, escrever de novo sobre o mesmo tema, e comparar as diferentes visões.

Aqui vai o primeiro, sobre a língua.

Cara, não recomendo ninguém fazer o que eu fiz, mas foi bom. Ser aprovado sem saber o francês foi um coco. Tive que correr em 6 meses pra aprender o bastante, pra não chegar aqui e morrer de fome. Mas por outro lado, foi bom, porque eu tinha realmente um motivo pra aprender, uma necessidade, o que me motivou a estudar.
Recapitulando, durante os primeiros 6 meses de 2012 eu estudei francês quase todos os dias: 2 intensivos (janeiro e fevereiro), e 2 extensivos (poliglota e CFI). O poliglota (centro de línguas do grêmio politécnico) é um curso mais redondinho, segue um livro (não gostava muito dele, mas ça va) e tudo. Tem todo o conteúdo já programado, mas ensina o francês  "standard". Então, por exemplo, tinha muitas coisas que eu aprendia e tinha certeza que nunca ia usar. Já o CFI é o curso de francês da FFLCH (Faculdade de letras da USP). E pelo menos o curso que eu fiz (MX, especial para duplo-diplomandos) era mais focado nos temas específicos de engenharia. Os dois são bem baratos, quando comparados com os de escolas conhecidas, mas o CFI é incrivelmente barato.
Uma grande diferença é conseguir já pensar em francês, e não precisar traduzir pro português pra depois entender, tá começando a sair normalmente, o que é muito bom. Por outro lado isso tá ferrando com o meu inglês. Pra ouvir de boa, o foda é falar. Começo em inglês e emendo um francês do nada huauahuahua "Yes" pra mim não existe mais. Agora é só "oui". É engraçado também que você não consegue fazer distinção entre as línguas. Ouve e lê tudo como se fosse a mesma coisa huauauha Tem hora que o professor passa um texto em inglês e você lê de boa, até que chega numa palavra que não entende, ai que percebe a língua.
Resumo tudo isso na teoria do switch. Numa cabeça normal dá pra ficar 'ready' pra duas línguas, que no caso agora é o português e o francês. Pra entrar o inglês tem que fazer uma mudança que não tá no planejado.

Vou listar algumas coisas diferentes no francês, tanto pra melhor, quanto pra pior:
  • Os números. Até o 60 (soixante) beleza. O que fode é depois disso. O 70, por exemplo, é soixante-dix (sessenta-dez). 71 é soixante-onze (sessenta-onze)... Não contente com isso, o 80 é quatre-vingt (quatro-vinte). E pra piorar, 90 é quatre-vingt-diz (quatro-vinte-dez). Tem coco na cabeça. Conversando com uma francesa em intercâmbio na poli, ela disse que é só um nome (seulement un nom). Que nunca tinha pensado nisso huahuhahua Mas pra gente dá um pouco de nó na cabeça hahahaha
  • Conjugação de verbos. Na escrita, é que nem o português, com todas suas conjugações, um pra cada pessoa. Mas quanto à pronunciação, tem uns que não falam a palavra inteira. Por exemplo, no presente, as 1a, 2a, 3a pessoa do singular e a 3a do plural são faladas como se fossem a mesma coisa. Dizem que pelo contexto da pra entender qual delas é. É bom pra falar, mas pode ser um problema na hora de escrever.
  • Continuando nesse sentido, tem umas partes das palavras que eles simplesmente não falam. Não só os verbos. O 'e' quase nunca é falado, assim como alguns finais das palavras. Português pode ser mais difícil, mas a gente fala tudo o que tá escrito.
  • Os acentos também são um problema por aqui. Tem palavra com 3 acentos. Muitas vezes já vi francês mesmo não sabendo como que colocava todos os acentos na palavra. A estratégia aqui é colocar só quando tem certeza hahahaha se não tem certeza é melhor errar por menos do que por mais. Falar que esqueceu e tal hahahaha
  • Gênero e número. Maioria das vezes, quando é feminino, acrescenta um "e" no final, e quando é plural, um "s". Entretanto, grande parte das palavras não tem a pronúncia modificada. Também é pelo contexto que se sabe se é um ou outro.
  • Pra não falar que eu só reclamo, vou falar do "chez". O "chez" é uma preposição que indica lugar, domicílio. Então se eu falar "chez moi", significa minha casa. "Chez le pharmacien" é a farmácia, lugar onde o farmacêutico trabalha. Isso facilita muito a vida. 
  • Aproveitando, o 'Y' é muito bem feito também. Ele é um pronome de lugar. Serve pra substituir um local já citado dentro de uma frase. Simplifica muito as coisas.
  • Moins cher. Não existe a palavra barato aqui. Só o menos caro. Acho que reflete um pouco os preços daqui mesmo hahahaha
  • O "et" (fala sem o 't'), que significa "e" (and). Até ae beleza, é igual ao português. Mas agora tenta falar só 'e', e não 'i'. Impossível hahaha Todos os professores falam isso pros brasileiros e espanhois.
  • Palavras do inglês. O francês tem uma raiva do inglês. Isso é fato. Por isso que eles "mudam" algumas palavras. Por exemplo, "computador", que é computador em qualquer lugar do mundo, aqui é "ordinateur". Gigabyte é gigaoctet. Mais por outro lado eles pegam muita palavra do inglês e usam em francês, falando com o sotaque francês. Dae fica impossível saber o que eles tão falando. Harry Potter é Arri Potér. Outra coisa ruim é saber com certeza se uma palavra existe mesmo ou é porque você tá pegando do inglês e transformando em francês. O Mauricio soltou na aula uma vez uma palavra do português, de forma afrancesada. Não lembro agora, mas tinha ela em português e em inglês, mas não funcionou muito bem no francês hahahaha
  • Acho que é mais fácil para um brasileiro aprender o francês do que o contrário. Não sei como a gente fala e se tem algum problema de pronúncia, mas temos uma grande facilidade para falar outras línguas. Nosso português apresenta muitos fonemas diferentes.
  • Além disso, o português falado e o escrito, o tal do "standard", que um estrangeiro aprende, são bem diferentes. Andei pensando nisso. Só o "tá", "tô", já deve quebrar as pernas.
  • O francês é uma língua realmente bonita. Por exemplo, xingamento. Eles usam normalmente o "Putain"  pra quase tudo. O português acho que tem muito mais palavrões que o francês. O problema é que um cara, por mais raivoso que ele esteja, se ele te xingar em francês, vai ser como se tivesse falando que te ama huahuahuahuahua
E pra terminar, não podia faltar o super episódio do Dexter, sobre a beleza da língua francesa:


Sei que devo ter esquecido outras coisas, mas isso eu vou colocando nos próximos posts. Pra quem já estudou, deve ter percebido grande parte dessas coisas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário